Por Villela da Matta, fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Coaching
De repente, parece que todo o País está falando de coaching. A inserção de uma personagem na novela das nove que se apresenta como “coach” e não só dá “explicações” sobre o tema como, também, supostamente “demonstra sua aplicação” poderia ser saudada por nós da Sociedade Brasileira de Coaching, profissionais sérios que dedicamos nossa vida a aumentar os resultados de pessoas, times e empresas por meio do coaching, como uma boa nova que deveria ser celebrada.
Afinal, nós, que conhecemos o poder positivo e transformador do coaching, temos como missão disseminar essa prática para que cada vez mais pessoas possam dela se beneficiar. No entanto, não foi isso que ocorreu. Em vez de ser causa de celebração, a controversa inserção do coaching, via merchandising, como temática de novela exibida em horário nobre deixou a desejar.
Os erros são muitos – e perigosos. Nas cenas da “coach” da novela, proliferam casos de uso equivocado de jargão – por exemplo, confundir coaching, que é o processo, com coach, o profissional que conduz esse processo e explicações que mais confundem do que esclarecem. É o caso de se perguntar quem, em sua sã consciência, investiria um centavo que fosse num processo representado desse modo.
Certamente não é esse o caso dos brasileiros que buscam melhorias concretas em sua vida pessoal e profissional, nem dos quase 30 mil coaches formados pela Sociedade Brasileira de Coaching, nossos quase cem associados e suas dezenas de milhares de clientes individuais e corporativos.
Também não é o caso de personalidades internacionais que já recorreram ao coaching em algum momento de suas vidas, como os ex-presidentes Nelson Mandela, Bill Clinton e Barack Obama, a apresentadora Oprah Winfrey, a campeã do tênis Serena Williams e muitos, muitos outros (tente reproduzir mentalmente a cena da novela com uma das personalidades citadas conversando com a “coach” fictícia e você verá que não funciona).
Mas o que poderia ficar apenas no domínio do risível ganha contornos de risco à saúde pública no momento em que a “coach” da novela sugere que o coaching poderia ser usado para “tratar” uma personagem que foi vítima de abuso sexual na infância. O problema, aqui, é que qualquer coach digno desse título sabe que há uma clara delimitação entre as atribuições do coach e as do psicólogo.
Traumas como o mencionado na novela são questões exclusivas de psicólogos e outros profissionais de saúde, e nunca do coach. A esse respeito, o próprio Conselho Federal de Psicologia se pronunciou, em nota cujo título afirma que a novela “presta um desserviço à população brasileira”. Diz o comunicado: “É consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da psicologia, pois são os que têm a habilitação adequada”. E conclui com um alerta para que a população “não se deixe iludir”.
Nós da Sociedade Brasileira de Coaching, que sempre nos preocupamos em prover ao público informações confiáveis e bem fundamentadas, atendemos esse chamado para esclarecer a população. E, para tanto, começamos enfatizando o que é coaching.
O coaching é uma assessoria pessoal e profissional que utiliza procedimentos orientados, cientificamente validados, para que indivíduos, times e empresas alcancem resultados superiores e positivos. Com ele, é possível entender como nós pensamos, sentimos, reagimos, aprendemos, mudamos e evoluímos.
O foco das estratégias de coaching abarca, entre outros fatores, o aprofundamento da autoconsciência do cliente por meio de ações contínuas de aprendizado. Essas ações têm uma base multidisciplinar que incorpora estudos da Psicologia Cognitiva, da Psicologia Comportamental, da Psicologia Positiva, das Ciências Organizacionais e da Neurociência, além de conceitos da Filosofia, da Educação e de Administração (negócios, processos e liderança).
Com o auxílio do coach, um profissional apto e conhecedor de técnicas e ferramentas que visam promover o desenvolvimento humano, o cliente tem a oportunidade de transformar e otimizar seu desempenho de maneira gradual e consistente em diversos níveis, seja em sua vida ou carreira. Essa parceria é calcada em um diálogo cujo objetivo é levar o coachee (o cliente do coach) a ter mais satisfação e elevar sua performance – resultados obtidos por meio de procedimentos específicos e acompanhamento por um determinado período.
É importante frisar que, embora utilize conceitos de diversas áreas da psicologia, o coaching, de modo algum, se confunde com essa disciplina. Apenas o psicólogo é, por lei, autorizado a praticar a psicologia. E apenas o psicólogo ou outros profissionais de saúde estão habilitados a tratar pessoas com disfunções, distúrbios e traumas. Se o coach tentar adentrar essa seara, conforme sugerido pela “coach” da novela, as consequências podem ser graves.
É função do coach tirar a pessoa de sua zona de conforto, e a exercer uma certa pressão para estimulá-la a agir em prol de seus objetivos. Para o indivíduo funcional, isso atua como estímulo e desafio. Para o indivíduo que se encontra em um estado de disfuncionalidade, a pressão pode ter um efeito oposto, como a intensificação de seu sofrimento e até mesmo a exacerbação de certas tendências e impulsos que podem inclusive – para citar um caso mais extremo – levá-la ao suicídio.
Nesse contexto fica claro por que o modo como o coaching foi inserido na novela é algo bem mais pernicioso do que uma mera piada de mau gosto. Creio que a questão pode ser bem resumida pelas palavras do Dr. Michael Cavanagh, da Universidade de Sydney, que por ser coach e psicólogo (com PhD em psicologia clínica) está perfeitamente habilitado para falar por ambos. Diz o Dr. Cavanagh, no livro Evidence-Based Coaching Handbook (manual do coaching baseado em evidências, em tradução livre):
Um dos pontos de diferenciação entre terapia e coaching é que, na terapia, o nível de instabilidade, ansiedade ou tensão é tão alto que chega a destruir a habilidade da pessoa de funcionar efetivamente em seus próprios sistemas. Elas deslizaram do limiar do caos para o caos propriamente dito. Assim, com frequência, um dos objetivos proximais da terapia é ajudar a pessoa a reduzir o distresse de modo a facilitar a emergência de uma nova ordem. Em outras palavras, a terapia busca confortar o aflito.
No coaching, porém, o coach é com frequência convocado a afligir o confortável! Nós frequentemente buscamos aumentar o fluxo, a energia e a diversidade em níveis que ajudem a pessoa a sair de padrões mentais e comportamentos fixos, de maneira a criar novos insights, entendimentos e ações.
Essa diferenciação foi extraída de um livro sobre coaching baseado em evidências. E aqui é importante fazer outra observação. A base evidencial é uma premissa crucial do coaching que se diz sério. Por base evidencial quero dizer respaldo científico. Por exemplo, o uso de conceitos, teorias e técnicas desenvolvidas por pesquisadores ligados a universidades internacionalmente reconhecidas, postos a teste em diversos estudos e pesquisas. Ou, então, pesquisas de resultados conduzidas sistematicamente com pessoas que participaram de treinamentos e de processos de coaching.
É exatamente a ausência dessa base evidencial que nos leva a rejeitar o uso da hipnose no coaching – contrariando, mais uma vez, o que afirma a “coach” da novela. Há no mercado algumas versões híbridas de coaching e hipnose. Porém, o ponto sensível da hipnose está em suprimir um sintoma deliberadamente antes que ele seja devidamente interpretado com competência. Dessa maneira, o sintoma desaparece, mas a causa dele não, e novos sintomas, mais imprevisíveis, começam a ser produzidos pelo corpo para compensar o sintoma que foi extinto.
Em suma, um problema dá origem a outros problemas, porque a hipnose pode compensar um lado e automaticamente descompensar outro. Dr. Harold Crasilneck, PhD, psiquiatra e psicólogo que foi pioneiro no uso da hipnose para o controle da dor durante a Segunda Guerra Mundial, escreveu em um de seus livros, em parceria com o colega James Hall: “se uma pessoa não pode tratar um problema com técnicas não hipnóticas, então não deve tratá-lo por meio da hipnose”.
Dr. Frank MacHovec, PhD, psicólogo e professor da Universidade de Stetson, na Flórida, escreveu um livro inteiro – Hypnosis Complication: Risks and Prevention(complicações da hipnose: riscos e prevenção, em tradução livre) – para abordar os efeitos da aplicação errada da hipnose. Segundo ele, caso seja feita sem o acompanhamento de um profissional da área de medicina, odontologia ou psicologia que tenham formação específica no assunto, é impossível dizer que a eficácia da hipnose é garantida, uma vez que os riscos superam os benefícios que possam ser prometidos.
A linha de hipnose especificamente citada pela “coach” da novela, a ericksoniana, é desaconselhada pela Associação Médica Americana por conta de estudos que comprovaram que, em muitos casos, ela provoca falsas memórias. Creio que por aí já dá para perceber a total irresponsabilidade que é indicar – em um programa direcionado para o grande público que, em sua maioria, não conhece o coaching – a modalidade com hipnose ericksoniana para alguém que teria suprimido a memória de um trauma sexual ocorrido na infância.
Para nós que trouxemos o coaching para o Brasil em 1999, e há tantos anos nos dedicamos demonstrar ao público brasileiro a seriedade, a credibilidade e os resultados positivos dessa prática, é duro ver como a desinformação pode se propagar tão rapidamente. Mas há antídoto para isso. O antídoto para a desinformação é a informação confiável. Por isso, é fundamental ficar atento. Quem deseja contratar um coach deve, antes de tudo, conferir suas credenciais. Onde ele (ou ela) se formou? O coaching que ele (ou ela) pratica é baseado em evidências? O coach segue um código de ética?
O Código de Ética e de Conduta do Coach da SBCoaching, o qual nossos quase 30 mil coaches se comprometem a seguir, estabelece em sua Seção II, Artigo1, que o coach “não usará informações falsas ou enganosas a respeito do coaching visando, com isso, conquistar novos clientes”. E no Artigo 2, lê-se que o coach “não prometerá o que não pode cumprir”.
Em respeito ao público brasileiro, para honrar a confiança que nossos parceiros internacionais depositaram em nós – gente como Brian Tracy, um dos mais reconhecidos business coaches do mundo, Martin Seligman, o “pai” da psicologia positiva, e instituições como o Institute of Coaching (IOC), afiliada à Harvard Medical School –, e em consideração aos nossos associados e aos nossos milhares de coaches e seus clientes, nós, da SBCoaching, reiteramos nosso compromisso com a seriedade e a credibilidade do coaching praticado no Brasil.
E lançamos uma campanha para disseminar em nosso país informações sobre os reais benefícios, processos e práticas do coaching. Desde já nos colocamos à disposição de qualquer pessoa ou instituição que queira esclarecer dúvidas ou informar-se sobre o coaching.
EU SOU Anabela Linhares, Master Coach de Carreira, Especializada em Realização Profissional e Psicóloga. Através da minha experiência profissional e de acordo com a minha essência, decidi sair do mundo corporativo e após 28 anos trabalhando na mesma profissão, mesmo sendo bem sucedida e tendo alta performance, percebi que faltava algo a mais, e durante um processo de coaching eu descobri minha missão, meu propósito e a minha essência